Brincar Livre

Brincar com peças soltas

O termo “peças soltas” foi inicialmente apresentado pelo arquiteto Simon Nicholson para descrever os objetos com uma finalidade aberta (open-ended), que não foram inicialmente concebidos para o brincar, e que poderiam ser utilizados e manipulados de diversas formas (e.g., caixas, baldes, tubos, pneus, tecidos, rolhas), num contexto lúdico livre e não estruturado, com pouca ou nenhuma intervenção do adulto.
Este tipo de brincar permite que a criança dirija a sua própria brincadeira, usufruindo das ilimitadas oportunidades de descoberta, criatividade e aprendizagem que as peças soltas proporcionam. A investigação tem mostrado que este tipo de brincar promove as competências sócio-emocionais como a comunicação, a cooperação, a negociação e a resolução de problemas. Um estudo da nossa equipa mostrou que proporcionar este tipo de brincadeira a crianças de idade pré-escolar resulta num aumento da expressão de emoções positivas e numa diminuição das concentrações de cortisol, um reconhecido biomarcador de stress.
Brincar Lá Fora

O potencial da aprendizagem em ambientes exteriores e naturais data de Aristóteles e Platão e está até marcado no termo “Jardim de Infância” ou “Kindergarten” (jardim das crianças).
Há coisas que acontecem no espaço exterior e que não acontecem em mais lado nenhum! Lá fora a criança encontra oportunidades de movimento, velocidade, expansão, desafio, liberdade, estimulação multissensorial.
De facto, nos ambientes exteriores e naturais as crianças sentem-se mais livres para se movimentar, experimentar e modular o ambiente e o seu comportamento.

Brincar Lá Fora promove:
– a atividade física;
– a competência motora;
– a autorregulação;
– os relacionamentos positivos;
– a competência social;
– a saúde mental.

Ainda assim, existe em Portugal uma “cultura de interior” que necessita ser contrariada! Sobrevaloriza-se o espaço interior e as atividades que nele decorrem (maioritariamente académicas) e subvaloriza-se o espaço exterior, ignorando-se o seu potencial para o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar da criança.
Apesar de o Ministério da Educação (2017) referir que
“as práticas educativas no exterior devem merecer a mesma atenção do educador que o espaço interior”, esta é ainda uma premissa seguida apenas por alguns municípios.
Brincar na Rua

Uma das melhores formas de ajudar as crianças é criar lugares seguros no exterior onde possam brincar, para que se possam distanciar e estar com outras crianças sem a orientação de adulto, permitindo-lhes expandir os seus horizontes além do que os pais e o resto da família podem oferecer.
O nosso trabalho não é proteger as crianças do mundo, mas sim dar-lhes os meios para que possam aprender sobre o mundo e prepararem-se para ele.
Por todo o mundo, existem movimentos de cidadãos que reclamam o direito à rua, criando ruas para brincar (play streets). As play streets são ruas fechadas temporariamente ao trânsito para que crianças, famílias e a comunidade possam brincar e conviver, usufruindo do espaço público sem trânsito. Um grupo de adultos garante o encerramento da rua, fornece informações aos transeuntes e incentiva as pessoas a brincar, passear, conviver… no fundo a desfrutar do espaço público. Este tipo de iniciativas já é uma tradição em países como o Reino Unido, Canadá e Alemanha. Em Portugal tem havido algumas iniciativas, embora sempre de forma esporádica.
Partilhamos as ligações para algumas iniciativas:
